Informações de contato

Florianópolis, Santa Catarina

Horário de funcionamento: das 9h as 18h, de segunda a sexta-feira.

Faleceu na manhã do dia 19 de abril, aos 71 anos, o multipremiado jornalista gaúcho de Nova Prata, repórter independente, crítico e marginal, Renan Antunes de Oliveira. Sofreu uma parada cardíaca, em casa, no bairro Rio Vermelho, em Florianópolis, onde se recuperava de uma infecção pulmonar. A suspeita era covid-19.

Renan havia feito, em fevereiro, um transplante de rim bem sucedido. Estava com a imunidade baixa e contraiu um patógeno. Ao ler a tomografia a equipe médica que o atendia no Imperial Hospital de Caridade, em Florianópolis, suspeitou que fosse o novo coronavírus. O Hospital de Caridade solicitou que Renan ficasse em isolamento em casa e receitou tratamento com coquetel à base de hidroxicloroquina e azitromicina — motivo de preocupação para Renan. Ingerindo imunossupressores em função do transplante de rim e muito bem informado, temia a denúncia da ANSM (Agência Nacional de Vigilância de Medicamentos Francesa), que relatou mortes por parada cardíaca em pacientes submetidos a estes medicamentos, contou sua esposa, a jornalista Blanca Rojas. No sábado, véspera de seu falecimento, cinco dias após o início do tratamento com as drogas, veio o resultado negativo para coronavírus.

Com texto texto ágil, irônico, ácido, Renan era a metralhadora das pautas não realizadas. O caçador das pontas soltas. Gostava de causas fora dos eixos, cenas engraçadas, crimes pequenos. Não passava panos na miséria. Não disfarçava a dor. Fez das coberturas internacionais sua maior aventura de repórter. Foi dos Andes ao Alaska, de Hong Kong a Berlim. Na China, escapou de ser deportado pelo Governo ao se acorrentar na embaixada. Preso no Irã, em 2001, foi levado para uma cadeia, encapuzado, e interrogado durante 30 horas com guardas brincando de roleta russa com sua cabeça. Conheceu o Brasil farejando pautas complexas. Cobriu o conflito em Raposa Serra do Sol, tiroteios no Complexo do Alemão, apurou histórias na calçada da Boate Kiss.

Em seu livro Carne Viva com Calda de Chocolate, Renan vangloriava-se de ter estado em lugares tão altos quanto o Tibet, tão complicados quanto o Afeganistão, tão calmos quanto o santuário catarinense de Madre Paulina. “Busquei personagens em Bagdá e na cidadezinha de Mariluz, em Tegucigalpa e Sarajevo, no Timor, Tailândia, em Paris e em La Realidad, vilarejo mexicano. Estive em mesquitas da arábia, sinagogas americanas, monastérios tibetanos e catedrais de Roma. Se tivesse alguma crença em Deus, teria tentado entrevistá-lo”.

Esse era Renan, um homem de coração selvagem — e teimosia de mula. Rebelde incorrigível, foi processado em cinco Estados, preso em quatro países e expulso de dois. Muitos leitores não o conheceram porque bateu de frente com os donos de quatro dos sete maiores conglomerados de comunicação do Brasil. Virou um pária na mídia.

Era chefão quando se acorrentou no jornal e fez greve de fome em busca de aumento para os funcionários — repórteres, diagramadores, fotógrafos — , todo povo que rala muito e paga a conta. Liderou revoltas contra os patrões. Primeiro em Brasília, depois em Santa Catarina.

Trabalhou para 16 portais, quatro televisões e as rádios BBC, de Londres, Internacional, da China, Farroupilha e SBS, da Austrália. Faliu duas vezes, recusou cargo irrecusável na Globo e, nos últimos anos, escrevia para site Diário do Centro do Mundo (DCM).

Renan Antunes de Oliveira foi o primeiro e, provavelmente, o único repórter a levar o Prêmio Esso com a reportagem A tragédia de Felipe Klein publicada num jornal nanico, o valente , de Porto Alegre. O cara havia desbancado grandes veículos, no principal prêmio nacional de jornalismo da época, com um texto eletrizante, humano, único e sobre suicídio, tabu antigo na imprensa. Em 2004, ao subir no palco para receber o troféu foi vaiado pelos colegas dos jornalões. Se apropriou do microfone por 25 minutos, insubordinado estourou o limite da fala, os organizadores planejaram até desligar o som, mas após contar sua história foi aplaudido em pé por todos no salão. Esse era o Renan e não existia indiferença diante dele.

O jornalista deixa a esposa Blanca, seis filhos e a mãe.

COMPARTILHE ESTA HISTÓRIA:

« Amandinha, uma leoa na defesa do futsal feminino...

Corpo de nordestino assassinado não atrapalha dia... »